segunda-feira, 17 de março de 2014

Tá na hora de falar do meu pai

Bem.. meu pai.

Meu pai morreu... eu fico me repetindo isso, por que ainda não entendi, aquela ficha sabe? Não caiu.


Ele era teimoso, chato, rabugento, impaciente, inconsequente, infantil, cabeça dura, convencido, intransigente, autoritário!

E eu sou exatamente como ele...


Meu pai se chamava Cássio Murilo Barbosa
Eu sou Cássio Murilo Barbosa Júnior, com orgulho.

Eu nunca tive a chance de dizer para o meu pai que eu amava ele, meu pai veja bem, tinha grande dificuldade de demostrar interesse, de demostrar que gostava de alguém, mesmo que fosse dos filhos, ele foi criado à moda antiga e fazia pose e guardava pra si... até mesmo as boas coisas, ele segurava a barra.


Mas por mais que eu lembre todas as coisas ruins dele, cada detalhe, eu sinto falta, todos os dias, não me entenda mal, ele nunca foi presente, eu lembro todas as vezes que eu queria que ele estivesse lá e ele não estava, ele perdeu quando ganhei minha medalha no basquete, perdeu minha primeira briga, meu primeiro 10 na prova, mas por algum motivo eu tenho vivo na memória todas as vezes que ele estava lá e eu sinto tanta, tanta falta dele!

E como ele, eu guardo isso pra mim.



Eu pensei que iria passar, pensei que com o tempo a dor iria embora, pensei que como tudo, eu iria esquecer, mas não, tem dias que a dor é insuportável, tem dias que tudo que eu queria era contar pra ele, contar que to tirando carteira, contar as pequenas coisas do dia a dia, tem dias que eu só queria poder ir lá na casa dele, reclamar de tudo, ver o programa do ratinho, fazer aqueles comentário já manjados sobre o clima, futebol e política, eu só queria poder deixar tudo pra trás por um final de semana, dormir no chão, fingir que os problemas ficaram para trás e voltar recarregado.

Quando eu ia pra casa dele era assim, ele estava com um sorriso gigante, uma piada e uma reclamação na ponta da língua e o mundo parava, por um final de semana que fosse, como se eu fosse pra outra dimensão, os problemas ficavam suspensos, e eu não tinha que lidar com eles, era meu pai e eu... só! Por mais que tudo desse errado, era um mundo à parte, era meu mundo à parte, era meu refúgio, era pra onde eu fugia.

Meu pai morreu.


Eu só queria abraçar ele, uma última vez, não precisava ter conversa, não precisava ter nada, só um abraço, eu queria que ele soubesse a falta que ele faz do meu lado, o tanto de coisas que eu guardo pra contar pra ele tinha coisas que eu só contava pro meu pai e pra mais ninguém. Quando eu tava mal, era ele quem eu procurava, sem nem mesmo perceber, porque ele me ouvia, ele parava o que quer que estivesse fazendo e ficava do meu lado e hoje em dia eu não tenho ele... Tanta coisa já aconteceu que eu só queria contar pra ele, eu só queria chegar na casa dele e dizer "é papai, você não vai acreditar...".

Eu perdi um amigo, o único que era 100% sincero comigo, meu pai me contava cada coisa, cada detalhe ele separava pra me contar, ele esperava e me contava, algumas coisas só pra mim, e era sempre sincero e direto, ele tinha um jeito dele, só dele, mas eu entendia, e hoje eu sei que é porque somos iguais.
E por sermos iguais, eu tenho guardado toda a dor pra mim, simplesmente não consigo dividir o fardo com ninguém, ele morreu na sexta, sabado foi o enterro, segunda eu estava trabalhando, normalmente, por dentro devastado, por fora tentando manter a fachada.


Eu já deveria ter parado de sentir falta dele, já devia ter aceitado, mas não dá, tem um espaço vazio na minha vida que tá aumentando, a falta da amizade que eu tinha com meu pai tá se tornando uma sombra grande demais, ter alguém pra falar toda a verdade, alguém que não vai só te ouvir porque é a obrigação fazer isso, alguém que não vá te dar conselhos só pra que você pare logo de falar... Veja bem, não quero colocar alguém no lugar do meu pai, não é isso, eu só preciso de alguém que me entenda, e é justamente isso que acho que tenho que desistir de achar...
Meu pai sempre disse que todo homem nasce e morre sozinho, não importa com quantas pessoas esteja, um homem sempre precisará só dele mesmo e será sempre só com ele mesmo que poderá contar sempre... Eu tenho que confessar que sempre discordei dele, desde o primeiro dia que ele disse isso, meu pai morreu sozinho, enforcado por uma calça, no banheiro... sozinho.

Eu me sinto só.

Eu não estou, mas me sinto, desde que ele se foi.


Eu já tentei dividir, já tentei falar com outras pessoas, mas não sou bom nisso, então fico calado e tento suportar, a dor é imensa, mas eu fico me repetindo que eu consigo, vai passar, uma hora vai passar.


Têm que passar!...

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